A Magia de Praga - parte 3: Josefov, o bairro Judeu
- Virna Miranda
- 11 de nov. de 2019
- 5 min de leitura
Atualizado: 23 de fev. de 2024
Nossa viagem estava chegando ao fim. Tínhamos apenas mais uma manhã em Praga antes de pegar o trem para a Berlim, de onde voltaríamos para o Brasil. Mas uma manhã em Praga, é uma manhã em Praga! Então acordamos cedinho, fizemos o check out, deixamos nossas malas no guarda volumes do hotel e saímos para nos despedir na capital Tcheca. O roteiro desse terceiro dia era por Josefov, o antigo bairro judeu (veja mapinha abaixo):

Josefov
O Bairro de Josefov fica ao lado da Cidade Velha e era o gueto dos judeus que surgiu com a união das duas comunidades judias existentes em Praga na Idade Média. Durante os séculos XVI e XVII, devido às acusações dos cristãos, todos os judeus tinham que usar uma identificação amarela. Em 1850, depois de anos de discriminação, o governante José II começou a integrar os judeus à vida em Praga e o bairro foi batizado de Josefov em sua homenagem. Entre 1893 e 1913, grande parte de Josefov foi demolida, numa iniciativa que pretendia "remodelar" e "sanear" a cidade de Praga. Do antigo bairro, restaram somente seis sinagogas, o cemitério Judeu e a prefeitura do bairro.
Sob o domínio do Terceiro Reich, os Nazistas pretenderam fazer de Josefov um museu exótico de uma raça extinta. Eles tomaram de outros locais objetos fruto de pilhagens em sinagogas de toda a Europa Central para que tais objetos ficassem aí expostos. Alguns desses itens de herança perdida formam a base das coleções do Museu Judeu de Praga.
Josefov apresenta atualmente muitos prédios modernos e muitos lamentam de que não se possa fazer uma boa ideia de como foi no passado esse local, quando no bairro viviam mais de 180 mil pessoas. Mas é possível ter alguma ideia visitando o Cemitério Judeu e as seis sinagogas judias que ainda restam em pé: Sinagoga Pinkas, Sinagoga Velha-Nova, Sinagoga Maisel, Sinagoga Espanhola, Sinagoga Klausen e Sinagoga Alta. O acesso é pago e vale para todos os edifícios e para o cemitério também. O ticket pode ser comprado em alguns pontos do bairro e você recebe um pequeno mapa para localizar as sinagogas.
O dia estava chuvoso e bem frio e Zeca e Peg não estavam super animados para essa caminhada pelas ruas de Josefov, mas eu e Vane queríamos muito conhecer as sinagogas, mesmo que por fora, então resolvemos nos separar e combinamos de nos encontrar mais tarde para o almoço. Guarda-chuvas a postos, partimos para um rápido passeio pelas vielas do antigo bairro.
Cada Sinagoga tem um estilo arquitetônico e uma história diferentes. Confira a seguir:
1. Velha-Nova Sinagoga
A Velha-Nova é considerada uma jóia entre as sinagogas por ser uma das mais valiosas do mundo e, ao mesmo tempo, a mais antiga da Europa Central. Até hoje, essa que é a principal sinagoga da comunidade judaica em Praga funciona como lugar de oração. Existe uma lenda que diz que o prédio foi erguido pelos ancestrais dos judeus de Praga há dois mil anos, após a destruição do Segundo Templo em Jerusalém no ano 70 DC. Ao passar pela rua Maiselova, a construção em estilo gótico, datada de 1270, impressiona pela arquitetura de pedra em forma retangular.
2. Sinagoga Espanhola
A Sinagoga Espanhola foi construída entre os anos 1867 e 1868 no lugar da sinagoga mais antiga de Praga, conhecida como Velha Escola, que, segundo registros, existia desde o Século XII - na antiguidade, as sinagogas costumavam ser espaços para a educação de jovens e adultos pertencentes às comunidades judaicas. O atual nome faz referência aos judeus espanhóis que foram abrigados no edifício depois de serem expulsos da Espanha, no final do Século XV, pela rainha Isabel I, conhecida como “a Católica”. Atualmente, o edifício em estilo mouro guarda uma exposição permanente sobre a história dos judeus na República Tcheca.

3. Sinagoga Klaus
Localizada ao lado do velho cemitério judaico, a Sinagoga Klaus foi construída em 1689 a pedido do prefeito da cidade judaica, Mordejai Maisel, para expandir o terreno do cemitério. Além de casa de oração, essa sinagoga era usada para acolher doentes e também para o ritual de Mikvah, o banho judaico. Após um incêndio que destruiu o prédio original em 1694, a Klausová foi reconstruída no estilo barroco que vemos hoje.

4. Sinagoga Pinkas
A Sinagoga Pinkas foi erguida em 1535 pela família Horovic, uma das mais respeitadas e ricas da comunidade judaica de Praga, para ser uma casa de oração privada. Depois da Segunda Guerra, tornou-se um monumento em memória aos judeus tchecos vítimas da perseguição nazista. No começo dos anos 50, seu interior se transformou numa homenagem aos judeus tchecos - os pintores Jiří John e Václav Boštík escreveram à mão 80 mil nomes de judeus mortos pelo nazismo, criando uma espécie de enorme inscrição sepulcral. Os nomes estão organizados em ordem alfabética e conectados às cidades do último endereço conhecido.
5. Sinagoga Maisel
Na mesma rua da Sinagoga Velha-Nova, está a Sinagoga Maisel, que desperta a atenção por ser um edifício renascentista com três naves e clara influência gótica, considerada características únicas para seu tempo. Esse prédio foi construído entre 1590-1592 pelo prefeito do bairro judeu de Praga, Mordejay Maisel, para ser uma sinagoga privada e reunir objetos cerimoniais preciosos.

6. Sinagoga de Jerusalém e do Jubileu
Erguida entre 1905 e 1906, a Sinagoga de Jerusalém e do Jubileu é a mais recente do cenário de Praga e exibe uma estilização modernista em estilo pseudo-mourisco. Desenhada pelo arquiteto vienense Wilhelm Stiassny, no centro de sua fachada tem uma inscrição em tcheco e hebreu que diz: “Esta é a porta de Jehová, por ela entrarão os justos. Por acaso, não temos todos um mesmo Pai? Não nos criou um único Deus?” Durante sua reconstrução nos anos 90, foram descobertos sob o reboque 25 m² de ornamentos pintados com grande riqueza de detalhes em estilo modernista vienense, que, segundo especialistas, não se encontra em nenhuma outra parte do mundo.

O Cemitério Judeu
Não tivemos a oportunidade de conhecer o Antigo Cemitério Judeu de Praga, estava chovendo, fazia muito frio e o horário do nosso trem para Berlim se aproximava. Mas pelo que li, é um lugar surpreendente, impactante e cheio de história. Durante mais de 300 anos, esse cemitério era o único lugar em Praga onde os judeus podiam enterrar seus mortos.
A despedida de Praga
Após nosso passeio por Josefov, fomos encontrar Zeca e Peg para nosso almoço de despedida de Praga. Eles nos aguardavam na Kozlovna Apropos, uma famosa cervejaria e referência em Praga para experimentar comidas tradicionais tchecas. O local é super acolhedor e a comida deliciosa. Excelente pedida para encerrar nossa jornada em Praga.
Leia mais sobre os destinos que fizeram parte do nosso roteiro, clicando nos posts abaixo:
Nosso roteiro pela Alemanha e Praga
Berlim
Romantikstraße
Áustria
Praga
10 motivos para se apaixonar por Praga
Comments